Avaliação da Atual Situação Político-Militar no Curdistão, 29 de junho de 2021
O Projeto da Guerrilha Profissional Moderna
– A Esperança dos Povos Oprimidos no Século XXI –
Hoje, escrevemos sobre o 65º dia da heróica resistência da guerrilha nas zonas fronteiriças das Áreas de Defesa de Medya. A 23 de abril, o exército de ocupação turco lançou um ataque contra as regiões de Metîna, Zap e Avaşîn, controladas pela guerrilha. Esta operação em grande escala foi denominada “Claw Lightning and Claw Thunderbolt”. É uma operação que se junta diretamente à espiral de escalada dos últimos 6 anos em que a ditadura fascista do AKP-MHP na Turquia fez tudo para quebrar a vontade de liberdade e resistência do povo curdo e de todas as forças antifascistas da região. Este ataque é a continuação da guerra nas cidades do Norte do Curdistão em 2015 e 2016, da invasão em Efrîn em 2018, de Girê Spî e Serêkaniyê em 2019, bem como das guerras de agressão contra os guerrilheiros nas zonas de Xakurkê e Heftanîn.
O conceito de “pô-los de joelhos”:
Já em outubro de 2014, no auge da resistência em Kobanê contra o Daesh e quando na Turquia e no norte do Curdistão prevalecia um cessar-fogo desde o Newroz de 2013, a liderança do Estado turco decidiu pôr em prática o plano de “pô-los de joelhos” (Plana Çokdanîne). Resumidamente, este plano visa dar um duro golpe ao Movimento Curdo pela Liberdade e, acima de tudo, à sua vanguarda, o PKK. Por conseguinte, todos os recursos disponíveis: militares, financeiro-económicos, e político-diplomáticos do Estado turco foram mobilizados durante os últimos 6 anos. Erdoğan e o governo do AKP-MHP veem esta guerra como a única forma de manter o poder e de realizarem as suas aspirações imperialístas.
Foi no final do verão de 2014 que o povo de Rojava e as suas forças de defesa, YPG e YPJ, se levantaram heroicamente contra o avanço do Daesh. Ao mesmo tempo, após as Pesmerga do KDP abandonarem as suas posições em todas as linhas da frente, os guerrilheiros das HPG e YJA-Star no Sul do Curdistão/Norte do Iraque apressaram-se a ajudar os Yezidis em Şengal numa operação histórica e puseram fim ao avanço dos gangues islamicos em Kerkuk, Maxmur e Hewler. Inspirados pela revolução em Rojava e pela resistência contra o Daesh, milhões de pessoas em todo o mundo saíram à rua e declararam a sua solidariedade. Surgiu um novo movimento internacional.
No Curdistão do Norte, na revolta de Outubro, de 5 a 9 de outubro, os povos fizeram os governantes da Turquia tremer de medo e ansiedade durante alguns dias. As instituições do Estado e do governo ficaram em chamas e os soldados não ousaram sair dos seus quartéis. 2014 foi um ano de duro confronto e o movimento revolucionário cresceu e tornou-se maior e mais forte a cada dia que passava. Rojava resistiu com sucesso e conquistou o coração de muitas pessoas em todo o mundo, no Norte do Curdistão e na Turquia organizaram-se movimentos de massa, o projeto do HDP foi posto em ação e no Sul a guerrilha ganhou uma popularidade há muito nunca vista através da sua intervenção abnegada e de autossacrifício contra o Daesh.
O Estado turco esperava utilizar o período de cessar-fogo para enfraquecer o movimento e os seus princípios ideológicos, mas, em vez disso, a luta armada atraiu mais pessoas do que havia feito em muito tempo. Só em agosto de 2014, Murat Karayilan declarou que mais de 1.000 homens e mulheres se tinham juntado à guerrilha num só mês. A resistência em Kobanê permaneceu inabalável apesar da aparente superioridade do Daesh, até porque as guerrilhas e centenas de jovens do Norte partiram, atravessaram a fronteira para Kobanê, juntaram-se à resistência na linha da frente e, na sua maioria, deram as suas vidas para evitar a queda de Kobanê a qualquer custo.
Esta realidade que o governo Erdoğan enfrentou em 2014 fez com que se concluísse que só uma completa eliminação da parte mais dinâmica da revolução, ou seja, o povo do Norte do Curdistão, e uma aniquilação da vanguarda deste Movimento de Liberdade poderia garantir a sua existência e poder. O povo, a guerrilha, a liderança organizacional-ideológica do PKK, deveriam ser “postos de joelhos”. Em consequência disto, Abdullah Öcalan foi mais uma vez colocado em completo isolamento na ilha-prisão de Imrali, a partir de abril de 2015. Foram tomadas todas as medidas para impedir a entrada do HDP no parlamento nas eleições de 2015, embora obviamente sem sucesso, e, a 24 de julho de 2015, o exército de ocupação turco iniciou finalmente a fase de guerra, que dura já há 6 anos, lançando um ataque total às Áreas de Defesa Medya controladas pela guerrilha no Sul do Curdistão/Norte do Iraque. Os guerrilheiros responderam dissolvendo o cessar-fogo, que até então apenas tinha sido declarado unilateralmente. O povo proclamou a autonomia e autoadministração democrática em várias regiões do Norte do Curdistão e fundou as Unidades de Auto-Defesa Civil, as YPS. Nem o povo nem a guerrilha se deixaram subjugar e ajoelhar, mas continuam a manter a sua posição, defendendo a sua dignidade. Muito tem acontecido desde então, mas a guerra continua sem cessar. O Curdistão do Norte, Curdistão do Sul e Rojava (Curdistão Ocidental) estão ligados nesta guerra, apesar de terem sido separados à força por fronteiras fisicamente traçadas, e é isto que todos nós precisamos de compreender. A luta nas diferentes partes do Curdistão não pode ser considerada separadamente. Sem a guerrilha, a revolução em Rojava nunca teria sido possível. Os guerrilheiros defenderam Kobanê em 2014/2015 e nunca pararam de defender a revolução em Rojava e sacrificar-se quando necessário. A guerrilha é o garante da autonomia da revolução em Rojava.
A situação e os acontecimentos em toda a região, tanto nas diferentes partes do Curdistão como nos Estados ocupantes e países vizinhos, estão inseparavelmente interligados. Por um lado, esta é uma das razões pelas quais a luta e a situação na região é tão incrivelmente complicada, por outro lado, esta realidade prova o enorme potencial de uma revolução viável e bem-sucedida nesta região.
Com o objetivo de destruir a guerrilha, o exército de ocupação fascista turco lançou as suas operações contra a região de Xakurkê em 2018, contra Heftanîn em 2019 e 2020 e recentemente quis dar um duro golpe ao coração da guerrilha ocupando a região de Gare nesta primavera.
Gare – A desforra e a vitória da guerrilha
A região montanhosa de Gare é um local estrategicamente importante para a guerrilha. Ao contrário de Metîna, Avaşîn, Zap, Heftanîn e Xakurkê, por exemplo, Gare não está localizada na fronteira com o território turco, mas mais para o interior, para o sul. Por isto, Gare sempre teve a vantagem de não estar localizada na linha da frente direta da guerrilha, mas de oferecer um espaço para o trabalho organizacional, educativo, etc., apesar dos ataques aéreos e da vigilância por drones. A 10 de fevereiro deste ano, o exército de ocupação turco lançou uma operação em grande escala para invadir a região de Gare. Acompanhado de bombardeamentos maciços e vigilância aérea em toda a região, o exército turco enviou centenas das suas forças especiais com helicópteros a partir de Sul, ou seja, do território do KDP, para Gare. Logo no primeiro dia, tentaram conquistar os pontos estratégicos da região, mas falharam miseravelmente devido à resposta direta da guerrilha. Onde quer que o exército turco largasse os seus soldados, apesar de horas de bombardeamentos anteriores, os guerrilheiros estavam no terreno e atacavam os invasores infligindo golpes pesados.
É óbvio qual era o plano. Queriam avançar para uma das áreas centrais da guerrilha com ataques surpresa, para aí estabelecerem uma base de apoio permanente. Durante dias, toda a região foi ininterruptamente bombardeada pelo ar. Na caverna, onde se encontravam prisioneiros de guerra, soldados turcos e agentes do MIT, o exército turco finalmente utilizou gás venenoso, matando tanto o seu próprio povo como os companheiros da guerrilha, liderados pelo Şehîd Şoreş, que tinham estado a resistir no terreno durante dias. Após 4 dias, porém, o exército turco, altamente moderno, o segundo maior exército da NATO, foi derrotado e forçado a recuar. A este respeito, o dia 14 de fevereiro deste ano marca uma vitória histórica para as guerrilhas. Mais uma vez, foram as guerrilhas que defenderam Rojava. “Como assim?”, poderão alguns perguntar. O que tem uma coisa a ver com a outra? Afinal de contas, Gare está no sul do Curdistão/Norte do Iraque e Rojava está no Norte da Síria. Certo, mas não é este o ponto mais importante. Em Gare, houve a desforra pela ocupação de Efrîn, Girê Spî e Serêkaniyê. Os milhares de combatentes caídos, as mulheres, crianças e homens assassinados pelo Estado turco e pelos seus capangas foram vingados em Gare.
O mito e a propaganda de que até as guerrilhas são, em última instância, impotentes contra a superioridade do Estado foram quebrados mais uma vez e foi revelada a mentira. Gare foi uma vitória para todos nós, no Curdistão e em todo o mundo, uma vitória para todos nós que marchámos lado a lado com a resistência antifascista dos últimos anos e assumimos a luta contra o fascismo turco e os seus cúmplices internacionais. Por muito que o estado turco tente esconder e transformar a verdade através da propaganda, por muito que tente quebrar a resistência através da campanha militar em curso, ampla e maciça, contra a guerrilha, não conseguirá reverter a nossa vitória, a vitória da guerrilha em Gare. O exército turco foi posto de joelhos em Gare e neste momento está a ser posto de joelhos todos os dias nas montanhas, em Metîna, em Zap e em Avaşîn. Para evitar constrangimentos, o exército turco recorre ao uso das suas forças paramilitares, aos gangues islâmicos da Síria, ao uso de guardas de aldeia, e aos capangas do KDP. Cada vez menos soldados turcos, cuja moral de combate está em baixo, são enviados para a frente de combate, outras forças são enviadas como carne para canhão. Neste contexto, o KDP desempenha um papel central, tendo estado ocupado durante meses a cercar as zonas de guerrilha do Sul e a provocar uma escalada que provocaria uma guerra intra-curda fatal. E mesmo que o KDP mereça ser responsabilizado pelos seus crimes, tal escalada seria do pleno interesse e objetivo do fascismo turco. A situação é grave e a guerra encontra-se numa fase crítica e decisiva. O Estado turco também está ciente disto e, consequentemente tenta tudo para poder avançar. Armas químicas e gases venenosos estão também a ser utilizados pelo exército turco em Metîna, Zap e Avaşîn para entrar em túneis e cavernas de defesa da guerrilha.
Apesar de tudo isto, a guerrilha continua a resistir há mais de 60 dias. Ao mesmo tempo, é interessante notar que a propaganda do Estado fascista turco, que normalmente acompanha qualquer operação militar, tem sido relativamente modesta e reservada. Obviamente, foi tomada a decisão de não fazer muito alarido para evitar um possível constrangimento como o de Gare.
O Conceito da Guerrilha Moderna
Há 65 dias, as jovens mulheres e homens das HPG e YJA-Star resistem 24 horas por dia, 7 dias por semana. Diante de um exército armado altamente moderno da NATO, que recebeu luz verde para a sua campanha de destruição dos seus parceiros da NATO, EUA e Europa, e é apoiado pelos colaboradores do KDP no Curdistão do Sul, as guerrilhas não têm nada além da sua vontade de resistir e vencer o fascismo. É esta vontade e com ela a realização do projeto de uma “guerrilha moderna” do século 21 que garante que mesmo depois de 65 dias o Estado turco ainda não tenha ganhos territoriais significativos para registar. A vitória na Gare e a resistência ininterrupta da guerrilha são o resultado da determinação revolucionária da guerrilha Apoista, assim como da reestruturação e reorganização dos últimos anos em direção a uma guerrilha moderna e profissional. A capacidade das HPG e das YJA-Star de manter os seus territórios no sul do Curdistão até hoje e de continuar a atuar em todas as áreas do norte do Curdistão está principalmente relacionada a esta profissionalização.
O conceito de guerrilha moderna já não se baseia apenas nas táticas clássicas de guerrilha, mas profissionaliza-se em todos os pontos de guerra e revolução. O guerrilheiro moderno deve estar firme nas suas convicções político-ideológicas, determinado para a construção do socialismo no século XXI: um guerrilheiro da modernidade democrática, guerrilheiro da sociedade democrática e ecológica e da liberdade das mulheres. O guerrilheiro moderno deve ser um soldado: Ou seja, ser disciplinado, organizado e estruturado. O guerrilheiro moderno deve conhecer o inimigo e conhecer-se a si mesmo, mover-se de acordo com as circunstâncias e condições e especializar-se no armamento à sua disposição. Os fundamentos da guerrilha clássica ainda se aplicam, mas a guerrilha moderna organiza-se de acordo com as capacidades técnicas em constante evolução dos Estados e governantes. Como resultado, a guerrilha moderna encontra as suas próprias respostas criativas para as características em constante mudança da guerra atual. Embora a quantidade não perca a sua importância, na guerra moderna a qualidade toma precedência sobre a quantidade, e isto é especialmente verdadeiro no caso da guerrilha. Uma das principais razões pelas quais o Movimento Curdo pela Liberdade continua a ser internacionalmente criminalizado, politicamente-diplomaticamente-economicamente marginalizado e isolado, pelas quais os EUA e a Europa apoiam e financiam a guerra da Turquia contra o PKK por todos os meios, pelas quais Abdullah Öcalan continua detido em isolamento e Rojava não recebeu status oficial internacionalmente, é a força radiante que uma luta de guerrilha bem-sucedida contra um estado da NATO poderia ter no século 21. Os imperialistas temem que o modelo do século 21 de “guerrilha moderna e profissional” se torne um exemplo e modelo para outros povos e lutas sociais em todo o mundo. Imaginemos, se eles já têm problemas tão grandes com a guerrilha no Curdistão e não conseguem destruir o PKK há mais de 40 anos, o que aconteceria se 2, 3, muitos movimentos de guerrilha modernos surgissem em diferentes partes do mundo? E se 2, 3, muitos movimentos de luta adotassem este modelo?
A situação da Turquia, a guerra no Curdistão e a NATO
A NATO, liderada pelos EUA, teme tal cenário. Uma guerrilha socialista a derrotar um exército da NATO no século 21? Um cenário de terror para os governantes capitalistas. Afinal de contas, não foi há apenas 30 anos que a bandeira do socialismo foi supostamente enterrada? Não foi proclamado o fim da história? A dolorosa resposta para os capitalistas é: No Curdistão, na guerra contra a NATO, na resistência contra o fascismo turco, a história continua a ser feita com autoconfiança e nada foi ainda decidido; aqueles que foram considerados mortos estão vivos.
Conhecemos a história da guerra especial da NATO no século 20, durante a qual tudo foi feito em todo o mundo para liquidar, destruir, assimilar e liberalizar os movimentos comunistas e socialistas. A Turquia foi e também é um lugar de intensa guerra especial. Golpes, “pogroms”, media dirigidos pelo estado, tortura, massacres, execuções extra-legais, terror paramilitar, prisões em massa, mentiras, drogas, prostituição, corrupção, chantagem, etc. – tudo isto faz parte do repertório fixo do estado turco, faz parte do repertório fixo de manutenção do poder de cada membro da NATO. Isto não é novidade, mas torna-se mais atual com as divulgações públicas de Sedat Peker – que compartilha há algum tempo no Youtube partes do seu conhecimento para o público em geral, sobre as conspirações do Estado profundo na Turquia e sobre a participação de diferentes personalidades nestes esquemas. É óbvio que um sério conflito de poder dentro do Estado turco pode ser visto por trás disso e também é claro que Erdoğan deve ser colocado sob pressão. Mas mostra a situação crítica em que se encontra a Turquia. A economia está em declínio há anos e, se não fossem as injeções financeiras regulares da UE e dos EUA, a Turquia provavelmente não teria mais conseguido manter-se de pé tão facilmente. Internamente, está a ferver; o governo Erdoğan-Bahceli conseguia preservar o seu próprio poder ao longo dos anos – através de falsas promessas, por um lado, e da repressão brutal, por outro -, mas a história mostra que isto não durará para sempre. Em termos de política externa, a Turquia gosta de se mostrar autoconfiante e independente, mas em última instância depende da boa vontade dos Estados Unidos e dos poderosos atores da UE, ou seja, da Alemanha e Grã-Bretanha.
Embora a Turquia se apresente como militarmente invencível e tenha feito o seu nome nos últimos anos com uma ampla variedade de destacamentos estrangeiros, como na Arménia-Karabakh, na Líbia, no norte da Síria e no norte do Iraque, a guerra está a arrastar imensamente as forças do Estado. A resistência do Movimento Curdo pela Liberdade não está a dar descanso à Turquia, está a escoar os seus recursos económicos, políticos, diplomáticos e sociais. O fascismo turco está à beira de um precipício e agarra-se com toda a sua força à perna das superpotências imperialistas para evitar que escorregue. O governo do AKP-MHP pode não mostrar isto abertamente e os media dirigidos pelo Estado podem pintar um cenário diferente, mas apenas a realidade de que, como explicou Murat Karayilan, do Comando Geral das HPG, o Estado turco tentou várias vezes nos últimos meses, através de intermediários, fazer o PKK declarar um cessar-fogo, mesmo com a oferta de que se as guerrilhas se retirassem do Curdistão do Norte, poderiam fazer o que quisessem nas outras partes do Curdistão, explica muito bem a situação da Turquia.
É verdade que é uma época difícil no Curdistão. Todos os dias, grandes mulheres e homens, camaradas, estão a perder suas vidas em várias frentes no Curdistão. A NATO, liderada pelos EUA e executada pela Turquia, continua a sua campanha de destruição contra o PKK e o Movimento Curdo pela Liberdade. Seja no governo democrata ou republicano dos Estados Unidos, as palavras podem ser diferentes, mas a estratégia continua a mesma – isto ficou claro logo após Biden assumir a presidência ao dar luz verde à operação em Gare. Recentemente, a recompensa pelos principais camaradas do PKK, que existia desde 2018, foi renovada e, ao mesmo tempo, a guerra atualmente em curso em Metîna, Zap e Avaşîn foi iniciada.
Os nossos camaradas que lutam no Curdistão, que lutam pela liberdade, estão a passar por um momento difícil. Nas montanhas, as guerrilhas vivem sob constante vigilância aérea, o que significa a morte caso façam um movimento errado. O zumbido dos drones e o estrondo dos jatos F-16 quase não param. É precisamente este momento difícil que exige que, internacionalmente, façamos tudo ao nosso alcance para apoiar a resistência. É também precisamente neste momento difícil que há grandes esperanças da destruição do fascismo turco.
O papel do KDP: Traição e Colaboração
O papel do KDP, em particular durante este período, é crítico. Durante anos, esteve ocupado a servir a Turquia e especialmente a inteligência turca. Com a desculpa de conduzir relações político-diplomático-económicas com o Estado vizinho para o benefício do seu próprio povo, grandes partes do Curdistão do Sul foram direta ou indiretamente entregues à Turquia. Dezenas de bases militares turcas foram estabelecidas e o MIT move-se e comporta-se em Hewler/Erbil, Duhok e Zaxo da mesma forma que em Ancara, Istambul e Izmir. A Turquia e em particular o AKP consideram o Curdistão do Sul até Mosul e Kerkuk como parte do seu território a ser reivindicado e estão determinados a criar a situação que lhes permitirá expandir fronteiras na região até 2023, o 100º aniversário do Tratado de Lausanne. O maior obstáculo para isto é o PKK e a sua guerrilha.
O Tratado de Lausanne foi o tratado internacional final que estabeleceu as fronteiras da Turquia após o colapso do Império Otomano em 1923. Erdoğan, junto com o AKP, tem reivindicado há anos em nome da Turquia os territórios anteriormente dominados do Império Otomano antes de o Tratado de Lausanne ter sido decidido, alegando repetidamente que a Turquia foi defraudada das suas terras na época. Agora, o KDP, liderado pelo clã Barzani, abriu as portas para a Turquia em todos os aspectos durante anos e a Turquia está-se a comportar em relação ao Curdistão do Sul como se fosse outro distrito sob a sua administração. Isto não é novo: na década de 1990, a Turquia (com a aprovação da NATO) usou as pesmerga do KDP para dissuadir as guerrilhas da sua ofensiva no Norte e para derrubá-las com uma guerra em duas frentes. Além do trabalho de vigilância de inteligência no Sul, que nos últimos anos tem permitido repetidamente à Turquia – como eles dizem – “eliminar” companheiros da guerrilha, incluindo em particular alguns dos membros da liderança, a Turquia tem usado o KDP há meses cercar e restringir as Áreas de Defesa Medya e isolar as diferentes áreas umas das outras. Ao mesmo tempo, pretende-se com isto provocar uma guerra entre o KDP e o PKK.
O KDP está submissamente a jogar este jogo com fogo, mas não está a declarar guerra por conta própria; em vez disso, através de provocações, mentiras e conspirações, está a tentar colocar a guerrilha numa posição em que tenha que atacar para poder culpar o PKK por uma chamada “guerra fratricida” e, assim, difamar e deslegitimar o PKK em todas as partes do Curdistão e da diáspora. Obviamente, tudo isto é feito em coordenação e com a aprovação dos EUA, Grã-Bretanha e Alemanha. As potências imperialistas decidiram destruir o PKK a qualquer custo. O próprio KDP vendeu-se há décadas e tornou a sua existência dependente da cooperação com os ocupantes do Curdistão e os imperialistas.
Em resumo, podemos definir o PKK e o KDP como a expressão concreta de duas linhas fundamentalmente diferentes no Curdistão. Visto desta forma, o KDP é a expressão da traição contra o próprio povo e da colaboração com o inimigo, enquanto o PKK é a expressão da resistência consistente e do apego ininterrupto ao próprio país e povo. Esta distinção descreve a situação atual na região e a posição das várias forças.
A Guerrilha Não Está Sozinha – Nós Estamos Por Trás Dela
A NATO, a Turquia e o KDP buscam uma estratégia de isolamento e divisão. Geograficamente, as áreas de guerrilha devem ser separadas umas das outras e Rojava deve ser isolada do resto do Curdistão. As diferentes regiões estão a ser cercadas, tanto a nível político-diplomático como económico, marginalizadas e isoladas, aumentando a pressão e erguendo internacionalmente um muro de anti-propaganda. Nós opomo-nos a isto e dizemos claramente que a guerrilha não está sozinha! Assim como apoiamos a revolução em Rojava, também apoiamos a guerrilha, porque entendemos que não há diferença entre elas. Uma condiciona a outra e vice-versa. Da mesma forma, deve ser entendido que a guerra no Sul é tanto uma continuação da invasão em Rojava quanto uma preparação para uma nova invasão em Rojava. Quando a operação em Gare começou em fevereiro, não estava claro nos dias anteriores onde o estado turco atacaria e, assim como uma operação contra as Áreas de Defesa Medya era provável, uma operação em grande escala contra Şengal e Rojava, especialmente a região entre Qamislo e Derik, também foi possível. Internacionalmente, é importante mostrar solidariedade de forma decisiva com a guerrilha e agir ativamente contra o fascismo turco, as suas instituições internacionais, os seus ajudantes, apoiantes e beneficiários e contra o KDP. Desta forma, podemos dar a nossa contribuição para a revolução e assumir e representar uma posição anticapitalista e anti-imperialista consistente.
Em nome da campanha RiseUp4Rojava, declaramos neste contexto o nosso apoio à recém-formada iniciativa “Defend Kurdistan” e enviamos as nossas saudações aos camaradas envolvidos.
Além disso, enviamos as nossas saudações a todos os combatentes que resistem nas linhas da frente em Efrîn, Eyn Isa, Til Temir, Metîna, Zap e Avaşîn!
Juntas, derrotaremos o fascismo turco, defenderemos o Curdistão e construiremos uma vida livre!
Continuamos a unir-nos em resistência #UniteInResistance
Esmagaremos o fascismo turco #SmashTurkishFascism
Erguemo-nos pelo Curdistão #RiseUp4Kurdistan
Erguemo-nos por Rojava #RiseUp4Rojava
Coordenação da Campanha RiseUp4Rojava,
29 de junho de 2021